Sobre e sob as folhas caídas, tristeza.
Na umidade gélida por baixo das pedras, só há tristeza.
Nas dores dos ossos de pés descalços, fria tristeza.
E o calor do café só aquece ainda mais as tristezas. Nos cantos, aranhas tecem teias de tristeza. E o vento triste balança as folhas das arvores em profunda tristeza. As flores, já poucas, e rosas, nas arvores, cheiram a mais bela tristeza.
Os portões, os tijolos vermelhos alaranjados, desbotados, é só tristeza. O varal do quintal, e seus guardanapos que balançam, balançam tristezas. Os cachorros quietos em suas casinhas, no quintal, aquietam ainda mais as tristezas
A bola que bate no chão da rua, parece um sinal de tristeza. e as crianças da rua nem gritam mais tanto... é só tristeza. O ronco fraco do carro que manobra, e faz meia volta, ronca só tristeza, porque não aguenta mais seguir aquele caminho de tristezas... um fraco...
Nos fios elétricos, rabiolas e esqueletos de pipa, é uma tristeza. As rabiolas indicam a direção do vento frio de tristeza. As parabólicas captam dos satélites de todo o mundo toda a tristeza das notícias e telenovelas torturantes... nauseantes... Construções começadas, pichadas em cores cinzas. e seus ferros enferrujados de tanta tristeza, esperam a chuva... para se desfazerem em tristezas de pó... É uma tristeza só!
A placa no terreno baldio anuncia a venda daquela tristeza, e os pássaros estão em seus ninhos melancólicos,
ninhos de tristeza. Os morros esverdeados e os telhados desbotados de tristeza
Ipês amarelos de tristeza, olham o passar do trem cheio de tristeza
No asfalto negro e esburacado e calçadas de obstáculos transitam todas as tristezas, e as matilhas de cães de rua, de costelas amostra comem lixo e tristeza. Os pombos voam, pousam nos fios, e entristecem ainda mais a tristeza que vem em ondas elétricas de três mil volts... da mais pura tristeza.
As crianças gritam na rua, e a bola pula... desse lugar, a mais alegre tristeza. A bola pula, as crianças gritam besteiras na rua... desse lugar, a mais alegre tristeza. Com mãos, pés, cabeças e bocas, as crianças pulam, chutam e gritam nesse lugar, de todas as tristezas, nas bocas banguelas e dentes cariados, as mais alegres tristezas.
"Tristeza não tem fim, felicidade sim..."
Querido Cristian,
ResponderExcluirseus versos chegam até mim, entre algumas lágrimas respingadas e outras tantas nostalgias acumuladas nos olhos...
O coração pulsa num sentir que ultrapassa o verbo...
Artérias de sentimentos!
Beijos meu querido
Oi Cristian,
ResponderExcluirLinda poesia.
Que em alguns momentos tudo é tristeza e a tristeza contamina nossos olhos de maneira que tudo que olhamos pareça triste também.
Mas discordo quando diz que tristeza não tem fim, e felicidade tem.
É que não carregamos marcas profundas da felicidade vivida no rosto. A felicidade transparece intantaneamente enquanto sorrimos e desaparece com os primeiros sinais de tristeza. Mas tristeza, essa deixa vincos profundos no rosto e no coração. Tristeza é como "subir", consome a gente. A felicidade é como " cair", leva a gente nos braços. Mas, cicatriz, querido Cristian, não é a ferida que um dia latejou, não. Cicatriz é superação. Tristeza e alegria passam. Uma cede lugar à outra como o sol se despede para dar lugar à lua, neste ciclo miserável de nossa humanidade.
Tristeza que não passa é depressão, alegria que não passa é euforia. E nesta condição, não são as tristezas ou alegrias que prevalecem, mas uma dor existencial profunda, que nos aprisiona em uma única estação.
Que chegue a primavera, para você, e para mim.
Grande beijo.Juliana