domingo, 23 de dezembro de 2012

Radio-frequente

Ela me surgiu assim de um jeito estranho,
E um desejo sem tamanho me tomou o corpo inteiro
Só nos sonhos saciado até que chegue fevereiro
Ela me disse fevereiro, fevereiro, fevereiro...

E quando acordo enlouquecido
É porque sonho com essa moça
Faço com que ela saiba o meu desejo
Pelas palavras radio-frequentemente transmitidas

Que a quero de um jeito todo singularmente nosso
Que não sabemos como será, mas que de certo já é bom
E assim nos temos tão perdidamente encontrados.

Cristian S. Molina


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Canto dos trilhos

Os trilhos assobiam uma melodia conhecida,
Está próximo o trem
...um frio na barriga.

Em tenra idade aprendia já muito dessa vida
Da escola fugindo bem
À estação envelhecida.

Ficava ali atrás da plataforma na expectativa
Do aço sobre os dormentes um som vem
Pulsa o coração feito engrenagens locomotivas
Ouvia-se que os guardas de fardas batiam bem
... ainda hoje, também.

Às vezes pendurados, atrás ou entre os vagões
Gritávamos,
Quando longe das mãos e borrachas pretas,
Sofisticados xingamentos da época,
eramos uns capetas.

 Aqueles bons tempos...
se as contingências não tivessem contido a audácia....
Talvez ainda tivesse aqueles amigos de arruaça,
vivendo de ousadia,
de graça...

O canto dos trilhos do trem não mais ameaça...
O cando metálico acomodou-se e nesta alma trilha
E sobre os trilhos, muitas vezes, ainda andarilha.

Cristian Steiner Molina



"Quando eu crescer eu vou ficar criança." (Manoel de Barros)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Um amor canalha

Ela me atrai demais
Mas isto não é óbvio?
Falando com ela, vem aquele último encontro.
Não rolou tudo,
Mas teve nossos beijos, abraços e apertos...

Um passado recente,
E de um desejo presente,
Velho affair... novamente...
Sem futuro algum!
Uma vontade de encontrá-la por inteira,
e vivermos outro momento,
Um instante
Gostoso de lembrar num futuro...
E esquecer este presente.

Elaborando o passado para esquecer
As coisas que nos impedem de viver o momento
Sei lá.. a vida é um sopro, como disse o Niemeyer
Então...
O amor é pra ser vivido,
Pra viver mesmo sem crer
Amor em todos os sentidos

Sem um amor abrigo...
Amo mesmo assim outros amores insubstituíveis...
Um amor descontido
Um amor de navalha
pra cortar o que tenho guardado
e que quer sair, desempedido...
mas não encontra lugar,
Não fosse um amor canalha.

Cristian Steiner Molina

Do medo de angustiar os velhos

Hesitei em alegrar aqueles velhos olhos

Com estórias de cócegas na barriga
Tive medo que pegassem gosto por essa vida
Medo de mexer e de curar nossas feridas
E de deixar um corte com a nossa despedida
Tive medo da angústia da partida
 
E se quisessem desse mundo não sair por ser tão bom,
E perdessem ali a dolorosa solidão de cada longo segundo?
 
 
Preferi que o tempo corresse num vazio profundo
Sem entender que há vida aonde há a morte
Alegria e sofrimento, Azar aonde há a sorte
E se para despedida há que ter encontro
Evitei a despedida estando ao lado muito distanciado
E descomprometido, a frieza foi minha fuga
A frieza da insensibilidade foi doer depois
Na saudade não saciada, no amor engavetado.


Cristian Steiner Molina

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Minhas amarras...

Nas coisas que mais desejo
Me saboto,
em teias de aranha
e mata fechada
que me perco

cipós me impedem de ir adiante
me arranho por inteiro
num luta com galhos espinhosos
e cortantes...

Atolo na areia movediça,
quanto mais me mexo,
mais me estaguino e me planto
nesse mesmo lugar...

me enrosco...
me machuco...
me morro nesse suor que me arde o corpo inteiro...
que me arde os arranhões vermelhos
que me arde...
que me arde...

a qualidade covarde refletida no espelho...
me rasga a vida depositada numa tarde...
...que deixei de ver você.

Cristian Steiner Molina