segunda-feira, 28 de março de 2011

Estupidez Cotidiana



"Eis a sublime estupidez do mundo: quando nossa fortuna está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas pelo nossos desastres; como se fôssemos canalhas por desígnios lunares, idiotas por influência celeste; escroques, ladrões e traidores por comando zodíaco. [...] É a admirável desculpa do homem devasso - responsabilizar uma estrela por uma devassidão!"

Rei Lear, Ato I, Cena II, W. Shakespeare

Processo

Um dia eu pensei, ao olhar a forte chuva que caía, que aí estava o fim de um processo.
Quando a chuva diminuiu e finalmente se foi, percebi que dos milhões de pingos que inundavam as plantas e o solo, formaram-se enormes enxurradas que procuraram na encosta o caminho dos riachos, desembocaram nos lagos e chegaram aos rios.




Quando o sol retornou e iluminou os rios, pude entender que um processo nunca tem fim... ele sempre recomeça, trazendo novas vidas, revigorando os campos, com a força e a honestidade de uma chuva de verão.
Que Bom não ter desistido em meio ao dilúvio!



(Heloísa Chiattone, 1998)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Conformismo

Se não sabe, 
os outros não saberão, 
se agir segundo as expectativas deles. 


Se eles souberem, 
também saberá, 
desde que aceite as palavras deles.




Erich Fromm

sábado, 19 de março de 2011

Morremos todos os dias... e renascemos




Há pessoas vivas por aí que morreram aqui faz tempo. 
Há pessoas que morreram faz tempo que vivem aqui na memória.
Morremos todos os dias... Nascemos todos os dias.
Não dá pra ter medo de ver o sol nascer só porque no fim do dia ele irá se por.
E a natureza? Será que ela está aí pra nos evidenciar e nos desiludir com a certeza de que tudo tem um ciclo... início, meio e fim...
Como é difícil aceitar o fim de uma festa, 
O fim de um dia com quem você ama,
Como é difícil aceitar os fins...
Como é difícil aceitar que tudo um dia acaba.
A vida um dia acaba também.
E o que você fez?  O que deixou de fazer? O que escolheu para pensar na hora de sua morte? Vai ter tempo de pensar? E se tivermos tempo, ficaremos tristes na hora da morte por não termos vivido o que poderíamos viver ou por deixar a vida que vivemos intensamente e a qual gostamos tanto?
Tudo que é vivo nasce, cresce, envelhece e falece. Que realidade mais dura!
E o mundo te entope de filosofia vazia nos livros de auto-ajuda.
E o mundo te entorpece com religião, álcool e outras drogas.
E o mundo te vende uma felicidade descartável e com prazo de validade.
Como é cômico e trágico aquelas "setentonas" da TV tentando a todo custo esticarem suas peles e levantarem suas bundas e peitos. Como é ridículo o sucesso da indústria farmacêutica! O fato é que todos querem driblar e se esquivar do beijo da morte. Querem a todo custo comprar uma ilusão de eternidade, quer seja pela religião, pela estética, poder ou outras drogas.




‎"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nos enquanto vivemos." (Pablo Picasso)


A branda fala da morte não nos aterroriza por falar da morte. Ela nos aterroriza por falar da vida. Na verdade a morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não corremos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos.
(Rubens Alves, 1991)








Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida.
(Raul Seixas)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nando Reis - Pra Você Guardei O Amor



Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir

(Nando Reis)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Heróis





Heróis vem e vão

Começamos por criar nossos heróis
Cada vez mais
Os primeiros heróis... os nossos avós
Depois nossos pais...

Começamos perder
Cada vez mais... ficamos sós
A dor, em nós vem arder

Perdemos nossos avós

Depois nossos pais...


Nos vemos a sós

Então somos pais...
Somos heróis
E tudo se inverte
Se repete
Então somos pais de heróis
E ainda heróis

Depois, também,
Os deixamos um pouco mais sós.
A morte vem.
Sós nunca mais.
Finda-se a solidão
de um herói
que teve, que fez, se fez e refez
heróis.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sobre os Trilhos



No trem
a gente vai e vem,
eu e alguém
que ninguém sabe quem,
que me leva ao além
e me faz tão bem.

Cristian Steiner

terça-feira, 1 de março de 2011

Querido Diário (tópicos Para Uma Semana Utópica)

Cazuza



Segunda-feira:
Criar a partir do feio
Enfeitar o feio
Até o feio seduzir o belo

Terça-feira:
Evitar mentiras meigas
Enfrentar taras obscuras
Amar de pau duro

Quarta-feira:
Magia acima de tudo
Drogas barbitúricos
I Ching
Seitas macabras
O irracional como aceitação do universo

Quinta-feira:
Olhar o mundo
Com a coragem do cego
Ler da tua boca as palavras
Com a atenção do surdo
Falar com os olhos e as mãos
Como fazem os mudos

Sexta-feira:
Assunto de família:
Melhor fazer as malas
E procurar uma nova
(Só as mães são felizes)

Sábado:
Não adianta desperdiçar sofrimento
Por quem não merece
É como escrever poemas no papel higiênico
E limpar o cu
Com os sentimentos mais nobres

Domingo:
Não pisar em falso
Nem nos formigueiros de domingo
Amar ensina a não ser só
Só fogos de São João no céu sem lua
Mas reparar e não pisar em falso
Nem nas moitas do metrô nos muros
E esquinas sacanas comendo a rua
Porque amar ensina a ser só
Lamente longe por favor
Chore sem fazer barulho