terça-feira, 20 de março de 2012

Quase livre num divã

11 de março de 2012
Sem musica a vida seria um erro... disse Nietzsche. A Música é a própria vida, não para. E se ele também disse que não acreditaria num deus que não soubesse dançar, também seria um erro acreditar num deus que não soubesse cair...
...levantar e continuar dançando, porque viver é dançar, nem sempre conforme a música que quase sempre é perfeita.

13 de março de 2012
É de enlouquecer...
Acredito que Jung queira nos transmitir que não é dizendo 'não' à vida que não queremos - e da qual tomamos consciência do desprazer e infelicidade que ela nos causa e causará - que conseguiremos mudar, mas sim, dizendo 'sim' ao que acreditamos ser uma vida total, e isto demanda sacrifícios... ou melhor... desapegos... e como é difícil desapegar! Mas sigamos inventando algum sentido...

16 de março de 2012
E tudo nos leva a um 'deixar que aconteça'... assim, naturalmente, sem resistências, como se o acaso nos levasse ao que desejaríamos ser, como se dessemos pistas ao mundo, e ele nos colocasse em nosso devido lugar... como se o mundo interpretasse a nossa alma e conduzisse a plenitude possível de cada um, levando em conta nossas questões de limites e o que podemos suportar de alegria ou de tristeza... é como se viver fosse deixar viver... deixar morrer... e nada mais. Desapegos, não mais do que poderíamos sobreviver. E ignorando esta maneira 'natural' das coisas, lutamos contra o que acreditamos ser uma interpretação errada desse mundo em relação a nós, que nos sufoca por decidir por nós, e afirmamos nossa singularidade, driblando o acaso do mundo que insiste em dizer o que somos, fomos e seremos, e o que não somos, não fomos e nem seremos... Tudo o que somos, fica sob a névoa do que não aceitamos como nosso, e perdemos nosso precioso tempo lutando contra o que não somos, contra o que o outro nos fez parecer ser... O que somos de verdade? Somos advogados de nós mesmos, numa defesa desesperadamente angustiante e sem saída da vida que, estagnada no banco dos réus... para todo o sempre... não vê luz, senão a limitada esperança de provar sua inocência vã e sem sentido. Provar e justificar a condição humana... como se estivéssemos, a todo instante, sendo acusados de sermos alienígenas.

16 de março de 2012
Estamos fadados a prosseguir, custe o que custar... é a vida! O resto é suicídio. E perpetramos suicídios lentos, todos os dias, quando vivemos, não na vida, mas em nossas sombras... como não vivê-las? Se há escolha, eu não sei... o que nos faz acreditar que decidimos alguma coisa, se a todo instante somos influenciados em nossas decisões? Quem está realmente decidindo alguma coisa? Somos livres para aceitar as alternativas que nos oferecem... no horizonte limitado de ser ou ser o que nos impõem. E se a dançarina desistisse de dançar em sua queda... e se ela decidisse, a partir de então, voar? E se ela deixasse o palco, contrariando todas as 'verdades' que determinam que ela deve levantar e continuar dançando... e decidisse voar...? E se o público que a via como uma deusa, agora não mais, por causa de sua queda, desse as costas ao espetáculo, como de fato se faz quando se espera tanta perfeição?
Me faz refletir essas questões... as consequências conscientes e inconscientes nos limitam nas decisões...
A dançarina não pode deixar o palco sem sofrer dolorosas consequências, mas o público pode deixar as cadeiras quando bem entender, deixando toda a culpa com a performance da dançarina.
Dançar não é para todos... no palco da vida se está suscetível a reações inesperadas da platéia, dos apenas expectadores...

18 de março de 2012
E que dilema! Penso que em determinados períodos, nós seres humanos, somos obrigados, quando já cansados de tanto 'resistir' (esgotados pela luta), a deixar que o acaso nos leve, até que recuperemos nossa autonomia (ilusão de controle). Nesses momentos de fragilidade, o sujeito fica vulnerável (não consegue pensar), só consegue sentir a dor de sua existência, não consegue aceitar a condição humana... acredito que é nessas horas que vamos as compras, comemos mais do que necessitamos, fumamos um cigarro, bebemos uma cachaça, matamos outro ser humano, usamos drogas, vamos a uma igreja... etc... tudo para negar a nossa frágil condição humana e virar as costas para a vida como ela é. Buscamos um 'além'... porque ser humano é doloroso e frustrante demais. E é quando ser humano parece ser pequeno demais, que nos tornamos desumanos, anti-humanos... "celestiais" ou "diabólicos"... é quando o medo e a insegurança nos guia... porque o medo é que move o homem a buscar suas "verdades", segundo Nietzsche, se não me engano.

É nessas horas que o sujeito delira, aceita sem questionar hierarquias, superioridades... pensa até que é uma ser superior, ou inferior... nessas horas o sujeito se torna "normal", quando desiste de si, e se submete a uma instituição que dá a ilusão de proteção... é nessas horas que o sujeito constitui família (mesmos sem amor, "porque amor vem com o tempo"), insere-se em religiões (mesmo sem 'fé', "porque a fé vem com o tempo"), acredita cegamente em qualquer filosofia (mesmo sem entender, "porque só se entende na prática")... e o conforto dessas instituições é que mata o homem. São infinitas as opções para se ser um louco normal. Já ouvi dizer que medo é falta de fé... acho isso meio que óbvio. O covarde é quem tem medo da morte, então, podemos incluir neste grupo noventa e nove por cento dos seres humanos, todos aqueles que acreditam que a vida não é aqui e agora, todos aqueles que acreditam que isto aqui é só sofrimento, todos aqueles que acreditam num munto idealizado, que não este... todos os que acreditam que somos imperfeitos... Não somos imperfeitos! Somos perfeitos em nossa humanidade.
E ser humano é ser assim... "o que não mata, fortalece"... "Deus morreu!" ... "Sem musica a vida seria um erro" ... o mito da caverna não estava certo, alias não há um 'certo', não há um mundo ideal. Não estamos enxergando somente as projeções na parede da caverna. Não estamos no escuro... "A religião é o platonismo do povo" e, o mundo deveria ser interpretado pela arte, a saúde deveria ser cuidada pela ciência (não pela política, ou pelo capitalismo).
Quanto as incertezas, quanto ao pensar, quanto ao duvidar... essas são qualidades humanas, enquanto houver pensamento, dúvida e incerteza haverá humanidade no ser humano. Enquanto o sujeito puder questionar, ele estará existindo. Viver para o que ainda não se é, é um erro.

Bom, ser claro não é meu objetivo. Tudo é refutável, incluindo minhas "convicções"... espero não ter fugido muito ao tema.


Cristian Steiner Molina

Associação quase livre no Divã da Dra. Juliana
Texto composto por comentários feitos no blog Deusas no Divã
Comentários nos posts: "Aquilo a que você resiste, persiste" Carl Jung e Dançando no teatro da vida

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