terça-feira, 14 de junho de 2011

Hospital [Parte II]

Em quinze ou vinte minutos chego no terminal rodoviário. O ônibus para o hospital acabara de sair e fico lá mais uns vinte minutos esperando o próximo. Na avenida em frente o terminal, um carro de som anuncia que às 18:00 horas haverá uma manifestação ali mesmo, ao lado do terminal, em protesto ao aumento abusivo da passagem e apontando o prefeito da cidade de ter aprovado tal aumento sem o consenso da população - deduzi que sem o consenso de seus representantes: os vereadores. -  O ônibus chega e embarco para o hospital. Dentro do ônibus, pernas engessadas e as velhinhas tossindo sem parar procurando um lugar para sentar, só encontrando quando o cobrador irritado chama a atenção dos passageiros que fingiam não ver a situação.
Chegando no ponto do hospital, ainda tenho que enfrentar uma enorme escadaria até chegar a recepção. Não contei os degraus, mas provavelmente, existem algumas boas dezenas. Vou procurar água pra beber e lá dentro, existe um único bebedouro que não funciona direito e não dá pra matar a sede. Todos os problemas que observo tem soluções práticas e rápidas e não são solucionadas, por isso acredito que todo esse sistema é planejado para ser aversivo e cheio de obstáculos, fazendo o cidadão pensar mil vezes antes de sair para utilizar um serviço público - parece teoria da conspiração, não?
Após passar pela recepção sou orientado a aguardar que me chamem. Sento na cadeira de espera e inicio minha leitura do livro que trouxe.  E me sinto um estranho por ser o único a estar lendo um livro dentro do hospital. As pessoas que usam esses serviços não tem esse hábito. Então começo a pensar sobre isso e não consigo me concentrar na leitura. Fico pensando se deveria estar expondo a minha dor e a minha revolta com tudo aquilo, como alguns ali faziam, cochichavam reclamações do serviço e a demora no atendimento. Um cara do meu lado parece muito curioso em saber o que estou lendo, o que também me incomoda. "Será que ele leu essa parte e fez algum julgamento?" O livro é de psicanálise e uma linha sozinha pode ficar muito mal interpretada.
A enfermeira me chama para uma triagem. Ela mede minha pressão arterial e a temperatura, diz que está tudo certo e encaminha-me para o médico. Nisso, o relógio já marca 15:30, mais ou menos. E quando penso que finalmente estarei frente a um Dr., uma nova  sala de espera para passar com o médico.

[continua]

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