sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

A Chuva

A chuva tece a luva sobre o solo,
Leva a ânsia, traz à quietude colo,
O sorriso da menina, guarda-chuva,
Guarda a chuva dos seus olhos.

Os pingos nas poças dão o tom,
De uma tarde melódica aguada,
Na várzea encharcada de som,
Meu espírito, tímido sol, te aguarda.

Olhos d'água, movimenta ondulada,
As curvas de cadências, querências e carências.
Afagam o silêncio de uma gota d'água,
Que insiste em molhar a paciência.

Cai a chuva em garoa, caem os pingos das telhas
A água desce pelos galhos e encontra os troncos,
E encontra gramas, e encontra a terra e suas veias
Cai o dia inteiro sobre nós, estamos prontos.
 
c s molina

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Resto de Gente

Fiquei um tanto arrazado...
Tivemos uma conversa
talvez totalmente franca...

É terrivelmente duro
quando fica claro
que ela já não vai mais lutar
e constato que faltei muito...
que faltei tanto...
...com ela.

Flores e carinho do dia-a-dia,
faltou o carinho,
um mínimo de conhecê-la,
saber seus gostos,
o que a deixa feliz...

Eu chorei, chorei...
eu chorei essa dor que é ter ficado de lado,
Insuficiente.

Ah, como estou triste!
Como isso é triste!
Mas que posição mais pequenininha a minha!
Sou um estorvo.
Eu sobro.
Sou um resto de gente,
totalmente desconstruído,
posto abaixo do mais baixo.

Ridículo na cena
Implorando que não me deixe..

Depois tomei um calmante
pra não morrer de realidade.
O sono veio, na boa noite.
Amanhã a manhã será linda.


Molina

terça-feira, 30 de julho de 2019

Instante

Durante um instante,
Por sorte,
Acaso ou morte,
Um vasto rio se abriu
Corrente…
Vivente!

domingo, 21 de julho de 2019

Distâncias


Preciso de um poema
que exprima os meus dias
quanta angústia e agonia
quanto medo palpita o peito

Solidão, não era assim 
que você me batia
Saudade e medo de perder
aqueles meus, aqueles meus

A cabeça esquenta
na constatação do meu
pequeno e descartável eu
Tão vulnerado, só... sem ninguém

A memória não reclama
fatos fortes pra lembrar
que avida está aí, que a vida está aqui...
Que o inverno vai passar.

Querendo sempre esquecer,
que os meus, que os seus,
Sempre poderão,
e muitas vezes quererão,
...se ausentar.

Cristian S. Molina

domingo, 7 de julho de 2013

FELINAS… CATIVAS CATIVEIRAS…



Olhos cativos felinos de mãe,
Sem dores olhos de raça impõem
De si… e sua prole, é a força que há
Há convicção em seu poder de olhar,
…Sã.

Insana mãe protetora que arrisca
A vida de amor de mortal ciúme… defende..
Segurança de garras de limites, garras há…
Vã a vida seria sem suas crias,
…vã.


Feminina, felina, cativas cativeiras
O filo… o cume…
Tu, masculino que é meio sem tato
Será pequeno, será só um pequeno gato


Agarram-te garras de fêmeas no cio
Arrasta-se, rasteja para unhas mil
Mil garras suas são um nada vazio

Seu coro em femininas garras de mãe
Feras no cio derrubam e devoram-te
E o que caça nem enche barrigas de filhos
Nem para vão dos dentes serve paterno.


Ela voraz mata rápido nem sente
Porque é uma lebre pequena ligeira
Garras de lebre são de cavar buraco
Ela comerá seu coração de roedor


Mais parecerá um pobre rato
E sua carcaça será para o filho
Fome felina, feminina felina se cria


Serviria para tira gosto num cômico ato
De mastigação breve, refeição das leves
Come sem força nem euforia, alivia azia.


O ferido felino olhar de fera materna
Observa a cria que cresce… e estabelece
Sangrias correndo em corações, eternas.


Se vai…
A cria se vai…
O cio vem forte…
Um macho… um norte…
Olhar felino se fecha… o feminino morde…
E tudo é uma sede… de sangue e de morte…
A fera caça costelas com carne… e sorte…


Cristian Steiner Molina
Março de 2012

Feito para o Vidráguas

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Partículas

Ouvindo aquelas palavras diminuidoras,
Sem armas, sem escudo...
Era a realidade esmagando a fantasia...
Brutalidade dizimadora de sonhos...
Foi concreto.
Foi mecânico o modo de se ver o viver.
Foi a vida em números e cifras...
Sem melodia,
A música parou de tocar durante toda a semana.
A vida foi um erro por muitos instantes
...durante toda a semana.

Uma morte sem herói.
Um silêncio de morte.
Uma morte sem história.
Uma morte sem morto.

É quando se pensava ser e não se foi.
É quando se é só partículas...
Poeira cósmica...
...presas ou soltas... só partículas.
No nada, no vácuo,
Poeira que o espírito do peso amontoa.
O vento leva, a água puxa
ao mar, a chuva limpa.
Poeira...
...tão partícula que sempre existe,
mas tanto faz,
ser ou não ser não é mais questão.

São tantas folhas,...
E tantas árvores...
São tantas casas...
E tantos bairros tão iguais...
Tem tanta poeira preta sobre tudo,
Tantos carros que passam na avenida
E são tantos prédios, avenidas,
Tantas cidades...
É tanto aglomerado de únicos quantificados.


Cristian S. Molina

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dos meus estimados bichos

Lembrarei deles
com a mesma alegria com que sempre lembrei,
e de suas manias engraçadas,
e do carinho e companheirismo particular,
de cada um daqueles bichos...

E se acaso não lembrar das suas coisas,
evocando qualquer tipo de lembrança,
por mais pequena que seja,
sentirei o sentimento que sentia na presença deles.

Acho isso uma forma de gratidão...
dar vida a eles enquanto eu os tiver...
na memória, no coração...

Cristian S. Molina

sábado, 16 de março de 2013

é assim, como ver um sonho na vitrine
e ter borboletas no vazio dos bolsos
é assim, quando a vejo passar, sublime
e estamos aprisionados em nossos caminhos

minutos...
um minuto...
um minuto para matar a saudade
de um encontro a dois, olhos nos olhos
um minuto de um olhar amigo, amor
um minuto de um olhar verdadeiro.

quando a vi passar, me fitou, em minha prisão...
e um sorriso libertou-me um pouco,
do concreto ao sonhar, passou, mas deixou uma ilusão
ficou aqui dentro, fazendo-me solto.

e suas migalhas mantem o pulsar de uma indagação
mesmo eu, uma vez mais indouto,
estando livre mesmo encarcerado numa submissão,
não mais sei se estou louco ou louco.


Cristian S. Molina


"Liberdade na vida é ter um amor para se prender." (Fabrício Carpinejar)

terça-feira, 12 de março de 2013

Contemplação

Há um prazer sem igual nesta contemplação
Esse movimento, esse vento, esse organismo
As cores na sombra, as cores no sol
Os carros, as pessoas, os edifícios e desperdícios
O limpo ao lado do sujo, o vivo que olha o morto, os bichos e a gente

Formigas e borboletas num jardim pequeno
Borracha, asfalto, concreto, aço e vidros
...E borboletas

Canto de pneu, de pássaro, de buzina, de motor e passos
Cheiros se misturam...
Terra, chuva, carro e gentes

Flores esquisitas balançam ao vento
sem motivação,
balançam por balançar,
por estarem ali,
plantadas,
nascidas.

Gente estranha,
gente comum e gente sofisticada....
Ah... Gente esperta, gente idiota,
gente indigente e doente....
Gente contemplada.


cristian steiner molina

segunda-feira, 4 de março de 2013

Nosso Tempo Raro

No pensamento me chega agora
Que sou sol, você o satélite
E que um ciclo maior nosso encontro devora
Mal nos vemos, e cada qual seu caminho segue

Raro estarmos juntos mais que um quarto de hora
Mal dá pra aquecer a superfície tua... lua
Já estamos novamente separados, num tempo que demora.

Hemos de nos encontrar
No poente e na aurora
Hemos de nos apaixonar
No amanhecer, no anoitecer, onde nosso encontro mora.

Ah, se o tempo parasse nessa hora
Ah, se minha vida fosse apenas aquele instante
Ah, se um dia desses você nunca mais fosse embora.

Campo Limpo Paulista, 26 de fevereiro de 2013

Cristian S. Molina

domingo, 3 de março de 2013

Padrões Patrões

Na teoria
tão fácil parecia
encontrar padrões
e desconstruí-los,

Na prática
foi preciso encontrar
outros padrões
para substituí-los.

Somos todos escravos
dos padrões.

Dos padrões patrões,
subordinados.

Cristian S. Molina

Poesia Conjunta com @dullimm





Eu te ensinei a dançar na vida.
E você aprendeu rápido.
Dançava com violência quando via o medo.
Dançava suavemente ao fazer amor.
Dançava ao adormecer quando ficava triste ou angustiado.
Dançava e nada te tocava o coração.
Mas acho que não te ensinei a sentir,
porque eu sinto demais....

[ Dulce Miller ]

Te ensinei o que aprendi e apreendi de você.
Te ensinei o que não sabíamos.
Te ensinei nada.
Aprendemos com nosso fenômeno.
Aprendemos a dançar com os pés no ar...
...e nossos pés nunca mais tocaram o chão.

[ Cristian Steiner Molina ]


Poesia Conjunta!
Curtam a moça do sonho

sábado, 12 de janeiro de 2013

Um poema na desarrumação

Um concreto complexo de sentidos
Seremos nós,
Na cama,
Um poema na desarrumação,
Sem letras para a poesia noturna.

Um poema para se ler no amanhecer
Nos sinais serenos,
Dos amarrotados lençóis,
De uma noite completa.

Um poema criado pelos sentidos
Poema de pele
Um poema de cheiros
De sons indecifráveis

E de silêncios ricos
Um poema de gostos íntimos,
De vistas intimizáveis...
E na desarrumação da manhã,
Escritos.

C S Molina

sábado, 5 de janeiro de 2013

Beijo

O beijo é um poema
que não cabe numa folha.
Num beijo
duas bocas fazem rimas
com dentes,
lábios
e línguas.

Cristian S. Molina

cristian steiner molina

domingo, 23 de dezembro de 2012

Radio-frequente

Ela me surgiu assim de um jeito estranho,
E um desejo sem tamanho me tomou o corpo inteiro
Só nos sonhos saciado até que chegue fevereiro
Ela me disse fevereiro, fevereiro, fevereiro...

E quando acordo enlouquecido
É porque sonho com essa moça
Faço com que ela saiba o meu desejo
Pelas palavras radio-frequentemente transmitidas

Que a quero de um jeito todo singularmente nosso
Que não sabemos como será, mas que de certo já é bom
E assim nos temos tão perdidamente encontrados.

Cristian S. Molina


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Canto dos trilhos

Os trilhos assobiam uma melodia conhecida,
Está próximo o trem
...um frio na barriga.

Em tenra idade aprendia já muito dessa vida
Da escola fugindo bem
À estação envelhecida.

Ficava ali atrás da plataforma na expectativa
Do aço sobre os dormentes um som vem
Pulsa o coração feito engrenagens locomotivas
Ouvia-se que os guardas de fardas batiam bem
... ainda hoje, também.

Às vezes pendurados, atrás ou entre os vagões
Gritávamos,
Quando longe das mãos e borrachas pretas,
Sofisticados xingamentos da época,
eramos uns capetas.

 Aqueles bons tempos...
se as contingências não tivessem contido a audácia....
Talvez ainda tivesse aqueles amigos de arruaça,
vivendo de ousadia,
de graça...

O canto dos trilhos do trem não mais ameaça...
O cando metálico acomodou-se e nesta alma trilha
E sobre os trilhos, muitas vezes, ainda andarilha.

Cristian Steiner Molina



"Quando eu crescer eu vou ficar criança." (Manoel de Barros)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Um amor canalha

Ela me atrai demais
Mas isto não é óbvio?
Falando com ela, vem aquele último encontro.
Não rolou tudo,
Mas teve nossos beijos, abraços e apertos...

Um passado recente,
E de um desejo presente,
Velho affair... novamente...
Sem futuro algum!
Uma vontade de encontrá-la por inteira,
e vivermos outro momento,
Um instante
Gostoso de lembrar num futuro...
E esquecer este presente.

Elaborando o passado para esquecer
As coisas que nos impedem de viver o momento
Sei lá.. a vida é um sopro, como disse o Niemeyer
Então...
O amor é pra ser vivido,
Pra viver mesmo sem crer
Amor em todos os sentidos

Sem um amor abrigo...
Amo mesmo assim outros amores insubstituíveis...
Um amor descontido
Um amor de navalha
pra cortar o que tenho guardado
e que quer sair, desempedido...
mas não encontra lugar,
Não fosse um amor canalha.

Cristian Steiner Molina

Do medo de angustiar os velhos

Hesitei em alegrar aqueles velhos olhos

Com estórias de cócegas na barriga
Tive medo que pegassem gosto por essa vida
Medo de mexer e de curar nossas feridas
E de deixar um corte com a nossa despedida
Tive medo da angústia da partida
 
E se quisessem desse mundo não sair por ser tão bom,
E perdessem ali a dolorosa solidão de cada longo segundo?
 
 
Preferi que o tempo corresse num vazio profundo
Sem entender que há vida aonde há a morte
Alegria e sofrimento, Azar aonde há a sorte
E se para despedida há que ter encontro
Evitei a despedida estando ao lado muito distanciado
E descomprometido, a frieza foi minha fuga
A frieza da insensibilidade foi doer depois
Na saudade não saciada, no amor engavetado.


Cristian Steiner Molina

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Minhas amarras...

Nas coisas que mais desejo
Me saboto,
em teias de aranha
e mata fechada
que me perco

cipós me impedem de ir adiante
me arranho por inteiro
num luta com galhos espinhosos
e cortantes...

Atolo na areia movediça,
quanto mais me mexo,
mais me estaguino e me planto
nesse mesmo lugar...

me enrosco...
me machuco...
me morro nesse suor que me arde o corpo inteiro...
que me arde os arranhões vermelhos
que me arde...
que me arde...

a qualidade covarde refletida no espelho...
me rasga a vida depositada numa tarde...
...que deixei de ver você.

Cristian Steiner Molina