quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

No Espelho da Natureza

Projeções e Preconceitos

Se eu chegar mais perto, 
não consigo enxergar direito
Enxergo melhor de longe e julgo o que parece ser
Sou o estigma sou o preconceito 
Tenho visão ofuscada para ver o que é próximo, 
O que me parece ruim, prefiro ver de longe
ou nem ver.


Que sou?

Será que vejo mesmo isso?
Há tantos pontos de vista.
Sou louco?
Sou são?
Sou normal?
Sou um alienígena?
Sou o que pareço ser?
Sou o que sou pra mim ou o que sou para os outros?
O que sou?
Sou?
Sou!
Nem sei quem ou o que, sei que sou.
Sou. 
Nada sei.
Sei que nada não sou.


No Espelho da Natureza (Nietzsche)
"Será que conhecemos exatamente o caráter de um homem quando o ouvimos dizer que gosta de passear por entre os altos trigais amarelados; que prefere, a todas as outras, as nuances extintas e amerelecidas que as florestas e as flores assumem no outono, porque essas nuances mostram mais beleza que a natureza consiga mostrar; que se sente, sob as grandes nogueiras de folhagem densa, perfeitamente à vontade como se estivesse entre seus parentes próximos; que sua grande alegria é estar nas montanhas, encontrar esses pequenos lagos afastados, de onde a própria solidão parece lhe lançar um olhar; que gosta do acinzentado tranquilo do crepúsculo de névoa que desliza, nas tardes de outono e de primavera, até as janelas, sob cortinas de veludo, como para isolar de toda espécie de ruído insólito; que considera todo rochedo bruto como uma montanha do passado, ávido por falar, que venera desde sua infância; e, finalmente, que o mar, com sua movediça pele de serpente e sua beleza de fera, sempre foi e sempre será para ele estanho? - Com efeito, assim algo da característica desse homem foi descrito, mas o espelho da natureza nada diz do mesmo homem que, com todos os seus sentimentos idílicos (e não digo "apesar deles"), poderia muito bem ser pouco caridoso, parcimonioso e presunçoso. Horácio*, que entendia de semelhantes coisas, colocou o sentimento mais terno para vida dos campos na boca e na alma de um usurário romano com o célebre verso: "Beatus ille qui procul negotiis." p.39
Friedrich Wilhelm Nietzsche
No livro  Miscelânea de Opiniões e Sentenças
Titulo  Original: Vermischte Meinungen und Sprüche

*Quintius Horatius Flacus (65-8 a.C.), poeta latino; o verso citado no texto é extraído do livro Epodon, II, 1 e significa "feliz daquele que fica longe dos negócios"

2 comentários:

  1. Oi Cris.

    O que define nosso caráter?

    Nossa postura? nosso estilo de vida?

    Acredito que a definição do caráter de uma pessoa, esta nos sonhos e nos motivos que a levam sorrir.

    PS 1: Obrigada pelo comentário no Deslizes.
    PS 2: Linda imagem
    PS 3:

    "Se eu chegar mais perto,
    não consigo enxergar direito"

    Então Cris, feche os olhos, porque como se diz,
    o essencial é invisivel aos olhos.

    Beijos querido.

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  2. Sou assim, enxergando o que os olhos alcançam e o que a alma observa!!

    Belas palavras!!

    Beijos

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