segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tocar Outros Caminhos


Tocar outros caminhos, outros ninhos, descarrilar.
Respirar outros embaraços e comer novas emoções
Amanhecer outros lugares, outros mares, brilhar.
Naufragar, amar e se afogar noutras embarcações.

Beber novas melodias e bares e cantar e cantar.
Morder o mundo todo e abraçar outras canções
Abandonar tudo esse nada e com tudo esvaziar
Fugir desse refúgio que é prisão de boas mães

Ouvir a terra seu compasso lento ao descansar
Abandonar o esquecido-lembrar das confissões.
Entrar pra fora e ser em desrespeito ao popular.


Pisar no ar do abismo agarrando as ilusões
Ganhar o possuído o doando a quem passar
Lembrar no sono bom de sonhar novas paixões.

Cristian Steiner

Poesia Inconveniente


Então a poesia é uma variável interveniente!

Na morta rotina ela vem provar que vivemos.

Um repentino raio inconveniente logo a frente,

Desperta do sono da vida que não escolhemos.

Cristian Steiner

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Eterno Retorno

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: 'Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!' Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: 'Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!' Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: 'Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?' pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?”

Nietzsche em A Gaia Ciência (1882), aforismo 56.

Veja outras tiras em: Um Sábado Qualquer

terça-feira, 17 de maio de 2011

Pássaros no Jardim

A super-proteção doentia da sociedade para com os seus filhos - que tornam-os ao extremo dependentes - ao invés de criarem seres inteiros, criam eternos bebês.  Metade da metade. Cortam suas asas e os prendem em gaiolas, limitando o mundo ao que a vista alcança.

Vamos criar filhos inteiros!
Colocá-los com os pés descalços na terra,
Deixar que a roupa se suje,
E depois tomar banho de chuva.




Deixá-los criar resistência,
E aprender a lutar
Contra todo esse mal
Pelo qual muitos hoje
Choram nos cantos
Porque não tem mais
As asas dos pais.





Não queira que os pássaros 
Vivam somente em seu quintal
O mundo não acaba em seu florido e lindo jardim!

Cristian Steiner

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Que bom que está de volta

Que bom é a volta!
Partidas são dolorosas,
E nos fazem duvidar
Da nossa própria força.
Mas sobrevivemos.

O alívio que nos trás o retorno
É o alívio das angústias de um sentir-se esquecido.
As palavras que abandonam nossas frases e acabamos numa página em branco.

Mas o retorno....
O retorno é a prova do junto mesmo distante.
O retorno é o fôlego que faltava, 
Suspiro que nos devolve a vida.

Os que se foram pra sempre
Nem sempre estarão tão distantes.
Mas esses que vivem distantes
Nos matam aos poucos.

Permita que volte
Somente o que é bom.
É uma permissão
Que damos aos bons.
Que bom que voltou!

Cristian Steiner

Coisificando a Vida




Ah...
Seus barulhos novamente...
Sempre estragando tudo.
Depois fica mal.
Não está nada bem.
Poderia estar melhor...

Deixa pra lá...
Tudo passa
Parece que estar bem não lhe é familiar...
Já se sentiu um "falso herói"?
Se sente assim?
Quanto mais se é..
quanto mais conquista,
Quanto mais o amam...
Mais se sente um estranho,
Desmerecedor..
Menos se sente você.
E aí se destrói...
Se despedaça...

Éh...
Precisa reagir.
Senão vai pirar de vez.
Uma pena esse distanciamento de si mesmo.

Éh...
Esse seu jeito de não assumir as coisas...
De se envolver sem se comprometer...
E deixar todas as coisas em todas esferas da vida em aberto.
E aí os significados vão se perdendo.
E a vida vai ficando sem graça,
sem sabor.

As pessoas vão se tornando cada vez mais descartáveis
E percebe que tudo isso é um reflexo do quanto se sente assim...
Descartável...
Sem valor.

Mas vai melhorar...
Não pode deixar esses sentimentos te dominarem.

"Somos pessoas...
Não somos coisas
Todos temos valor."

domingo, 15 de maio de 2011

Abraçar

Abraçar é se entregar,
É desaguar, acolher e aquecer.
O abraçar cura qualquer angustia.
Abraçar é dar e receber.
É viver.
O abraçar fortalece o amor.
Divide a dor.
Dá calor.
Então não diga nada,
Só me abraça.

Cristian Steiner

terça-feira, 10 de maio de 2011

Ela estava no seu íntimo



Buscando a luz 
Que fizeram-o um dia acreditar,
Notou que a luz não era luz, 
Eram lampejos de sabedoria vazia.
Que vinha de fora,
E se perdeu de si
Enquanto buscava.


E se viu perdido
Perdido num labirinto

E recolhendo-se em si
Dialoga
Com as trevas em si mesmo

Sim
Havia calor nas trevas
E sentia-se a luz.
Sentia-se.

Cristian Steiner

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Frio

 
Luz em névoa.
Claridade apenas suficiente,
Para ir vivendo. 
É preciso estar perto da luz. 
Não há calor na solidão.
E a luz da lua não é luz dela, 
É reflexo
Do sol aceso,
Escondido de traz  do mundo.
Calma!
Haverá Sol.

Cristian Steiner



domingo, 8 de maio de 2011

Abismo

"Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você” 
(Nietzsche, F.)


Eu perco o medo, 
Me lanço nos abismos,
Crio motivos, 
Perco sentidos, 
Ando sem freio,
Sem receio.
E tudo de bom se perde,
Se ganha. 
Rasgando dinheiro,
Amassando papel.
Todo valor escorre 
Como água por entre os dedos.
Então eu mergulho no lago.
Quero me afogar por aqui.
Dessa sede eu não morro.

Para cada minuto vivido,
Vinte e quatro horas perdidas.
E uma vida bem curta.
E me perco na devassidão 
De uma vida de excessos.
Tatuando ilusões... 
...Despedaçando corações.

Uma subtração 
De todo amor oferecido.
Sem compreender 
E nem mais tentar entender...
Sigo vivo.
Sigo em frente.

Cristian Steiner



sábado, 7 de maio de 2011

Fugindo de Si Mesmo



E a vida
Era
Vida sem vida, 
Sem vontade, 
Sem tesão.
Se perdendo, 
Procurava e não se achava.
Encontrava trevas em seu ser. 
E por medo do escuro,
Fugia...
Fugia...
...e fugia.


Cristian Steiner


Remédio para o Pessimismo

Queixas-te porque não encontras nada a teu gosto?
São então sempre os teus velhos caprichos
Ouço-te praguejar, gritar e escarrar...
Estou esgotado, o meu coração despedaça-se.
Ouve, meu caro, decide-te livremente.
A engolir um sapinho bem gordinho,
De uma só vez e sem olhar.
É remédio soberano para a dispepsia.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fragmentos do Meu Eu

"É sem qualquer terror que eu vejo a desunião das moléculas da minha existência." (Marquês de Sade)


Perdido no universo.
Desfragmentado.
Reduzido a partículas invisíveis.

Os maiores sentimentos 
Estão no núcleo do átomo.
Eles explodem de quando em quando no espaço.
Os corpos afastados
Nem sentem nada no nada do vácuo do universo.

Fragmentos do meu eu estão por aí
Explodindo em emoções perigosas
Desorientado, 
Perdido na vida.

Eu engoli essa ogiva,
Ela me despedaçou.
Me reduziu a pó.
Eu virei uma poeira cósmica.


Cristian Steiner