domingo, 31 de julho de 2011

Tela Viva



Tela: René Magritte - "A Condição Humana"


Os tons que a luz do sol realça
Numa tarde
Da janela d'um quarto
Num dia sonolento qualquer
Depois de uma boa chuva
Lá fora, no jardim, 
Há plantas de folhagem avermelhadas,
Muitos tons de verde
Há folhas amareladas
Tem um varal sem roupas.
O portão tem cor alaranjada.
A escada em concreto, umedecida.

Tudo fica mais bonito após a chuva,
As cores tem aspecto mais vivo.
A natureza é mais feliz.
E um olhar para essa beleza alegra a alma das pessoas.
A tempestade passou.

Lá, além do jardim, a serra.
Os tons, verde escurecido ao longe.
Daria uma bela pintura.
Ainda existem nuvens alvas
Contrastando com um azul claro do céu.
É bonito.

De repente uma borboleta,
Voando desordenadamente 
frente a janela.
Uma libélula em seguida.
Um movimento no céu chama a atenção.
Pipas...
Alegria da molecada na calçada em gargalhada.

Entre o jardim e a serra, a linha férrea.
Um trem move-se lentamente.
Outro atravessa a serra 
uma impressão de colisão.
Mas continua lá, quase parado, 
O primeiro, inteiro, cargueiro.

Pelas frestas do portão
O movimento das pessoas.
Começa a vida na tua rua.
Dessa janela a melhor visão
O tempo lento a serra tranqüila.
Novamente a vida crua e nua.

O cheiro de vida e de recomeço aqui é o de terra molhada.
As plantas dançam contentes, ainda umedecidas. Há vida. 

A serra, o trem, o jardim, pipas, borboleta, libélula e calçada.
Janela é quadro no quarto é obra de arte viva, naturalmente colorida.

Cristian Steiner Molina
Janeiro de 2011


A Força da Vida

Ainda quando "caímos fora"
Por raiva ou por covardia, por causa de um amor inconsolável
Ainda quando a casa é o lugar mais inabitável
E choras e não sabes o que queres

Acredite que há uma força em nós, meu amor
Mais forte do que um relâmpago, do que este mundo irracional e inútil
Mais forte que uma morte incompreensível
E do que esta nostalgia que não nos larga mais

Quando tocares lá no fundo
De repente sentiras a força da vida que trazes contigo,
Amor não sabes, verás, existe uma saída


La Forza Della Vita
Renato Russo


Feito para o SC Arte&Cultura. http://sandracajado.com.br/

sábado, 30 de julho de 2011

FAMÍLIA

O que é família?
Proteção, amor e compreensão?
Alegria, união e partilha?
O que é família?

Família.
Só mesmo de perto pra não ver.
Núcleo das neuroses.
Gênese dos distúrbios

Família boa
Família ruim.
De que família você é?
Família,
Que estereótipo quer vestir?

O que é família?
Remorso, dor e confusão?
Intrigas, interesse e armadilhas?
O que é família?

O que é família?
Cachorro na sala?
Amigos, vizinhos, quintais?
O que é família?


O que é família?
Sangue, valores, laços apertados?
Pais separados?
Desilusão?
O que é família?


O que é família?
Amor ao ódio?
Ódio ao amor?
Prisão?
Fantasia?


Família
Experiência socialista...
Falida
Esquecida
Barganhada
Vendida.


Cristian Steiner Molina




quarta-feira, 27 de julho de 2011

SECO


É uma pena vê-lo assim...
Querendo portar-se de maneira diferente
Mas algo aí dentro não te deixa sorrir
Desculpando-se pela péssima recepção
Querendo estar alegre e recebê-la contente
Mas não consegue se permitir
Lamenta-se, 
Prendendo-se a correntes.

Será que é o fim? - Você se pergunta.
Parece um velho que não tem mais fôlego para viver
Sem querer ver nem fazer mais amigos
Se afastando de todos que ama e que te amam
Não suportando nem sua própria presença
E ausentando-se de si mesmo.

Viver se torna um sacrifício
Encontrando prazer somente nas coisas amargas
...nesse vinho seco mergulha suas angustias.
Mas elas não se afogam.

domingo, 24 de julho de 2011

Era uma vez um carinha


Era uma vez um carinha qualquer
Um qualquer um.
Um qualquer funcionariozinho público 
Mergulhado numa rotina decorada,
Com um saláriozinho estável,
Na prefeiturazinha da cidadezinha de nada,
No interior de um estado qualquer
Do país de ninguém. 
No mundinho disponível mai fácil.
Era uma vez um carinha.


Era uma vez um estudantezinho de um faculdadezinha qualquer...
Na qual se formaria mais um profissionalzinho sem futuro,
Um carinha que não tinha sonhos,
Que muito de vez em quando,
Fazia uma coisinha um pouquinho diferente,
Pesando nas oportunidadezinhas que perdeu,
E lamentando-se.


Então a rotinazinha  gritava para que voltasse.
E até criava uma rotinazinha qualquer pra esquecer aquela vidinha medíocre.


Era um carinha que escrevia coisas sem sentido
Só pra matar aquele tempinho chato,
Pra não pensar muito no seu mundinho mais fácil,
Que queria que todos soubessem da sua vidinha sem sentido.
 Um carinha que fazia o mundo sofrer  por sua pequenez.
E ele tinha um sadismozinho orgástico com esse poderzinho.
Como o cavaleiro da triste figura, também fazia o mundinho rir 
Quando acreditava ser um alguenzinho.
Era uma vez um carinha.


Um carinha que acalmava o mundo
Com sua fidelidadezinha ao conformismo inconformado mudo,
Amorzinho doentio por aquela vidinha, 
Era uma vez um carinha.


Cristian Steiner Molina

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Deus, Me Dê Caos!


Quando tudo está em paz,
…eu não estou!
Eu quero um barulho,
Eu quero que algum terremoto abale meu coração…
Eu quero sentir algo forte,
Ver até onde agüento,
Quero testar minha resistência na intensa emoção.

Penso em um ambiente celestial e fico down.
Até que é legal,
Paz….
Por favor,
Só após uma boa guerra.
O descanso só me dá prazer na exaustão.
Exaustão de uma batalha vencida.
De paz seria um erro,
Uma vida.
O bom mesmo é lutar! É entrar na briga!
Faz-me saber que estou vivo.
A guerra ainda não está vencida.

Quando tudo está um caos,
O tempo passa. A vida anda. Tudo se transforma
Na mediocridade,
Aos espectadores do caos, seguidores da norma
Aos jovens “de idade”…
O tempo para na monotonia da mesmice, sobra.

Eu sou movimento,
Interação, para alguns, tormento.
Preciso de um bom inimigo
Do meu tamanho.
Um bom adversário,
Com talento.
Deus, me de um caos que eu mereça.

Cristian Steiner

Texto publicado no Sandra Cajado A&C

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Desejos Escancarados


Tua pele umedecida... meus lábios,
Teus cabelos a deslizar entre meus dedos,
Teus olhos... os meus desejos,
Meus olhos... tua boca.
***
Minha barriga... a tua,
Teu ouvido... minha língua...,
Teus pés ...
Teu calor e o meu corpo,
Meus pelos... teus seios,
Meu gozo e os teu gritos,
Teus arrepios e meu coração acelerado,
Meu suor... teus calafrios...
E nossos corpos aquecidos e abraçados...
Nossos selinhos... olhares.. e carinhos...
Nossos narizes... e bocas... 
***
Nossas peles... pescoços e dentes... tua nuca.

Orelhas e línguas

Nossas unhas... arrepios...
***
Tua pele umedecida... meus lábios... 
Minha boca faminta a salivar
Teus olhos gulosos e meus desejos escancarados...
Minha barriga... a tua, nua... nosso tato.
Meu peito... teus seios... 
Teu calor e meus pelos a eriçar...
Nosso orgasmo...
Nossa morte...
Nosso ressuscitar...
Para nossa vida Afinadamente rouca...
Carinhosamente vulgar...
Apaixonadamente louca.

*
Cristian Steiner Molina

***

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia,
Pra poesia que a gente não vive,
Transformar o tédio em melodia.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Com uma ajudinha de meus amigos

O que você faria se eu cantasse fora do tom
Você se levantaria e viria até mim
Me empreste suas orelhas e eu te cantarei uma canção
Eu vou tentar não cantar fora de tom

Eu consigo,
Com uma ajudinha de meus amigos
Tudo que eu preciso são meus amigos


Joe Cocker - With Little Help From My Friends

terça-feira, 19 de julho de 2011

Um Poema Crescendo

Eu disse a ela uma vez, parafraseando Cazuza (que ela ama) que "nosssos destinos foram traçados na maternidade" e que não precisaríamos apressar as coisas, porque um dia com certeza algo mágico aconteceria entre nós... 
...e esse dia está chegando.


***

Assim...
Uma amizade,
um carinho,
um afeto...
Sem fim...
Correr em seu sangue,
meu caminho
predileto.
***
MSN,
risos,
versos lindos...
Devaneios
de quem queria lhe dar
mais que palavras...
Poemas lisos,
deslizes e poemas lidos
E-mails
comentários,
queria mesmo era lhe dar
mais que palavras...
***
Palavras que pedem ações
Palavras que clamam por abraços
Urgência...
É o que manda nossos corações
Perder a noção...  apertar os passos...
***
Palavras que já estão escritas fora do papel...
Destinos traçados... nas estrelas... no céu.
***
Um poema crescendo
Como o desejo constante por seus  beijos...
Algo vai acontecendo
Logo é o momento de entregar-se aos desejos.
Enfrentar os medos.
***
Cristian Steiner Molina


***
"... pra qualquer um na rua, beija-flor."


sábado, 16 de julho de 2011

Apronto-me



Nosso encontro
Anseio... receio... ponto.
Poema, prosa... conto?
Conto contigo... não conto?
Será que te ponto ou desaponto?
Apronto-me!
Depois confronto e reconto.
Pronto me encontro. 

Encontro-te
Encontro-me
E ponto!

Cristian Steiner Molina

A Qualquer Hora



Ela disse ser impossível 
não imaginar o sussurrar 
daqueles poemas em seu ouvido.
Perguntando a ele quando poderia ligar.

***

Ele, nada oferecido, responde:

Quando bem entender...
Pode até me...
me catar, amassar, arranhar.
Pode ser... depois que escurecer...
A qualquer hora...Quando desejar...
Poderia me ligar agora..
Se não tivesse a me ausentar...
Mas não se preocupe...
Aqui existe alguém que te adora
Te ligarei se você não ligar.

Te ligo assim que puder.
Pra ouvir e poder te falar.
Ajudar a decidir o que quer.
Quem sabe até te encontrar.
Quem sabe até te amar.
Quem sabe até me amar.


Cristian Steiner Molina
***

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Caixa de Sonhos

As vezes sinto,
Ao pensar nas coisas que não fiz 
Ou que deixei de fazer,
Que todos os meus sonhos
Estão a embolorar dentro de uma caixa, 
Trancados a sete chaves.

Todos os sonhos que já vivi,
Não são mais sonhos.
São conquistas que já esqueci.

E é estranho.
Aquela alegria intensa,
Sem tamanho,
Que sinto ao realizar esses sonhos,
Passa num estalar de dedos.
E retornam meus fantasmas e medos.

Tenho uma caixa de sonhos.
Não sei quando abrir.
Pois às vezes o que acho são pesadelos

Ela está sempre cheia.
E deixo que seja assim.
Sonhar é bom!
Abrir essa caixa é viver.
E os pesadelos vem mesmo.

Cristian Steiner
***

"Eu tive um sonho ruim e acordei chorando...
...por isso eu te liguei. 
Será que você ainda pensa em mim?"
Cazuza




segunda-feira, 11 de julho de 2011

Palavras Desconcertadas


Pegadas de palavra
Palavras pegadas peladas,
Folhas amareladas 
Folhada folheada
Regada... Salgada... molhada...
Adocicada vida mau falada...
desvairada...
***
Safada fada danada nada dada.
Palavra lavrada...
digitada...
inconformada..
Malcriada criada....Palavra ditada...
regrada...
Digitada... gravada...
Palavra corada.
***
Rima trabalhada
Versejada Palavra brincada... jogada
Forjada... moldada... 
emaculada...
***
Palavra encantada...
Esculpida... 
talhadas palavras...
Palavras à amada.
***

Cristian Steiner Molina